quarta-feira, junho 22, 2011

MÉDICA RELATA CONDIÇÕES PRECÁRIAS DA SAÚDE HOSPITALAR

22 de junho de 2011
Cartas
DESABAFO

Há 22 anos tomei uma grande decisão. Deixei São Paulo e vim morar no Litoral Norte. Estudei muito e fiz residência em saúde geral comunitária, pois sabia que viria para uma região que necessitava de profissional médico com vivências em todas as áreas básicas, embora ginecologia e obstetrícia fosse a minha melhor formação. 
Acertei na decisão, aqui conheci meu marido (ha 18 anos juntos) fiz minha casa, ganhei uma filha linda, tenho grandes amigos e conquistei meu espaço profissional. Nestes 22 anos muitas coisas mudaram para melhor: o acesso ao litoral, nossas estradas, a travessia da balsa, praias urbanizadas, novas escolas, entretenimento, shows, eventos gastronômicos e culturais, enfim, ainda temos muitos problemas, mas, sem dúvida viver aqui é bom. 
Sinto, porém que a beleza do mar e toda a natureza exuberante que nos cerca, o preparo constante para a “temporada” tem nos tornado apáticos, indiferentes e paralisados diante de um grande problema. Posso afirmar sem medo de ser injusta que São Sebastião tem hoje no seu único hospital um “desserviço” a população que tem naquele nosocômio sua única saída numa emergência ou num procedimento qualquer hospitalar. Reajam cidadãos de São Sebastião.
Não é possível que uma cidade maravilhosa, como esta, com um dos melhores orçamentos do maior e mais rico estado da nação, que recebe turistas de todos os níveis e principalmente “participantes direto do PIB brasileiro” tenha como única estrutura hospitalar, o Hospital de Clínicas de São Sebastião. 
Uma estrutura construída há mais ou menos 80 anos, com suas acomodações arcaicas, onde as enfermarias mais parecem um depositário humano (grandes salões com varias camas e um único banheiro) contrariando todas as normas técnicas sanitárias e de privacidade do paciente e seus familiares. 
Nestes 22 anos que aqui estou e há 18 anos trabalhando neste hospital, vejo a cada dia sua decadência, sua degeneração, seu atraso a passos largos para trás. A UTI foi o grande e último avanço e hoje está sucateada, trabalhando sempre em sua capacidade máxima e com o esforço de seus profissionais, que vez outra, perdem seu mentor, médico que a montou, que tem especialidade em UTI, que por ser uma pessoa polêmica está demitido por fofocas e maledicências, nunca levando em consideração a perda da qualidade do serviço. 
Saiu Solus, saiu a Acqua deixando um rastro de calote: PSF não recebe salário (abril ainda não foi pago) – Solus não entrega nossa declaração de rendimentos, atrasa o faturamento do hospital, não se credenciou nos convênios, atrasou os repasses aos médicos. Não investiu em nada no hospital (fui passar visita num apartamento e o marido da minha paciente que pagou pelo parto estava dormindo no chão) – hotelaria zero. 
Agora temos um interventor e um secretário de saúde que assumiram o hospital: amigos de longos anos, companheiros, o secretário meu colega e percebemos que não têm autonomia, não dispõem de recursos, não conseguem implantar uma linha de gestão. Um plantão meu na maternidade: não havia luvas, faltam fios, tesouras não cortam, pinças não pinçam, médico-obstetra faz 11 cesáreas num dia (ultrapassando todos os limites de desrespeito ao atendimento materno-fetal) no dia 15, dia de pagamento dos médicos recebi $ 400, por um mês de trabalho porque o repasse do governo federal dos partos e cirurgias que fiz, não sei porque, não chegaram a conta de quem trabalhou duro durante um mês – Conclamo: vamos reagir: vereadores, comerciantes, estudantes, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, enfim cidadãos de São Sebastião vamos exigir uma solução técnica, decente e imediata para o nosso único hospital. Pergunto diariamente: afinal quem manda, quem decide neste hospital? 
Marina Collasanti escreveu em um de seus poemas: ... a gente se acostuma, mas não devia – Desafio: visite qualquer hospital médio em Sampa ou SJC e depois visite o HCSS – vc “morrerá de tristeza, vergonha e medo”
Dra. Janete Martinez Peres

CRM 56515
por email

4 comentários:

Anônimo disse...

Dia 01 17 hs. No aud. Sindipetro teremos audiencia publica com diversas autoridades e a midia . Aproveite a sua oportunidade de exercer sua cidadania .

Anônimo disse...

Dia 01 17 hs. No aud. Sindipetro teremos audiencia publica com diversas autoridades e a midia . Aproveite a sua oportunidade de exercer sua cidadania .

Vitório M. M. Papini disse...

Já exerço minha cidadania há algum tempo. Não é por falta dela e do que muitas outras pessoas vêm declarando contínua e publicamente, a respeito dos serviços municipais de Saúde, que a situação atingiu esse ponto.
Falta vergonha na cara ao prefeito, ao secretário de Saúde, a esse, principalmente, porque chora enquanto mama.
Não vou à audiência pública marcada para o próximo dia 1º de julho, mas estou certo de que será proveitosa para a solução das questões que irá tratar.

blogdatp disse...
Este comentário foi removido pelo autor.